Para Emmanuel Levinas, a relação com o outro não é uma relação idílica e harmoniosa de comunhão, nem de uma empatia mediante a qual podemos colocar-nos em seu lugar; o reconhecemos como semelhante a nós, e ao mesmo tempo exterior; a relação com o outro é uma relação com um mistério.
Closer, filme dirigido por Mike Nichols, com roteiro de Patrick Marber (dramaturgo inglês), vai fazer 20 anos em 2024, e revendo suas personagens, me surpreendi (de novo) com as camadas humanas tão bem embaladas na trilha sonora de Damien Rice.
Intimidade e estranheza habitam os 4 participantes desse jogo sem fim, onde a angústia mora na ignorância de si mesmo e na aposta da conquista do outro.
Assistimos a tragédia da triangulação, portanto temos o complexo de Édipo estampado o tempo todo no filme. Reféns de enlaçamentos apaixonados e idealizados, miram a conjugalidade, mas acertam apenas na impossibilidade de um projeto compartilhado.
O terceiro entra no contexto para ser excluído e ficar de observador.
Em cena: o jogo perverso onde todos são perdedores. |
Há uma busca incessante do olhar do outro (I can´t take my eyes of you...) na ilusão do quanto mais perto melhor (Closer), mas o que encontram é a distorção e a con-fusão. A busca obsessiva pela verdade como resultante de uma ferida narcísica frente à intolerável possibilidade de já não mais possuir totalmente o corpo do outro.
Não foi possível, a estes casais, construírem uma história de experiências compartilhadas...
e facilitadoras de um vínculo de confiança.
Compartilhar requer um grande trabalho psíquico por exigir a renúncia aos mais primitivos anseios infantis.
“Um bando de estranhos tristes fotografados lindamente. É uma mentira." |
Para além da intimidade via erotização, encontra-se a busca da verdade a qualquer preço – através do olhar, do fotografar, do interrogar – é uma tentativa de fugir do desamparo frente à impossibilidade de possuir/dominar o outro em sua essência e plenitude.
Na ânsia de fugir ao desamparo, buscam fusionar-se, levando consigo a ilusão de que, ao penetrar no espaço íntimo e secreto do outro, encontrariam a suprema glória. Com o rompimento destes limites, a erotização tomou forma através do olhar e do desejo de tudo saber. A presença de um terceiro se fez necessária como condição de um triunfo, onde o excluído é sempre o outro.
Hello stranger, a frase que abre o diálogo no início da história já avisa aos espectadores: Esses estranhos que se esbarram por acaso nas ruas de Londres, são estranhos que se cruzam todos os dias dentro de nós.
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