quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Download da própria existência.



Envelhecer é um privilégio, e a maioria acha que é um castigo.  O Exótico Hotel Marigold reúne um elenco maduro com muita cor, sensibilidade e humor britânico, pra contar essa história direito.


Einstein, quando perguntado sobre suas motivações para a pesquisa, afirmava que a emoção mais profunda é inspirada pelo senso do mistério:
"a existência de algo que nós não conseguimos penetrar da beleza radiante do mundo a nossa volta, acessíveis a nossa mente apenas em suas formas mais primitivas, esta é a emoção fundamental que inspira a arte e a verdadeira ciência."
Freud se encarregou de outro mistério, o da beleza e magia dos processos da nossa mente, de um mundo interior. 

Ambos, Einstein e Freud, cada qual a sua maneira, romperam com séculos de verdades estabelecidas, deixando claro que somos muito menos senhores do que supúnhamos, tanto da natureza quanto de nossas ações. 


As vezes precisamos cair em algumas situações, onde os contrastes do lugar podem ser tão gritantes,  os limites dos nossos gostos esbarram em tanta novidade, que as transformações são inevitáveis. 



É interessante pensar que as vezes precisamos ir para um outro país, falar uma outra língua, se sentir um estrangeiro e passar por experiências extremas para que finalmente alguma coragem apareça magicamente dentro de nós.
Sutilezas do dia-a-dia são apreciadas raramente.


Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber ?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber ?
A vida é tão rara
Tão rara...
(Lenine)




Lanço a pergunta: Pra que esperar chegar a terceira idade para começarmos a refletir sobre felicidade, rabugices, comodidade, verdades absolutas?
Qualquer pessoa, a qualquer momento, em qualquer lugar do mundo, pode olhar através de outro ponto de vista, outra perspectiva.
A personagem Evelyn se pergunta quase no fim do filme, "Qual o propósito do casamento se nada é compartilhado?"
Estar com o outro, seja no amor, na amizade, na família, no trabalho, tem que ser de forma autêntica, verdadeira.
Quando Bion fala em aproximar-se mais da realidade, trata-se (acho eu) desta verdade pessoal a ser revelada/constituída mediante o próprio trabalho do pensar.



O coração do filme está alojado em dois personagens opostos: aquele que mais abraça sua nova moradia, e que é menos alterado por ela, e aquela que mais é lançada para fora de sua zona de conforto: Graham e Muriel, interpretados magistralmente por, Tom Wilkinson e Maggie Smith. 
Ambos precisavam dessa viagem imensamente para entrarem novamente em contato com os seus passados, no caso de Graham, o amor, e no caso de Muriel, seu propósito de viver, cuidar de alguém e se sentir necessária. Assistir à queda de cada muro, cada defesa de Muriel é fascinante, perceber o calor humano vencendo as geleiras do preconceito e da raiva, por si só já vale o filme.