VHS |
Nesse filme antigo, tinha uma mesa do lado de fora da casa, onde as pessoas faziam as refeições. Cada vez mais a mesa ia crescendo. Chegavam pessoas novas, diferentes, que vinham de lugares sofridos, doloridos e encontravam ali conforto e amor. Essa mistura de tipos de gente e gerações me encantava.
Pude entender naquela época, no início da minha faculdade de psicologia, um possível significado de familia: O lugar onde as pessoas ficam alimentadas, abastecidas de amor. Aquela mesa representava a continência que cada um não possuia antes de se vincularem.
A mesa que me encantou |
O título original que não tinha nada de excêntrico |
Voltando para a família do festival de cine francês, com o título original: Gaspard va au marriage, um filme de 2017 de um diretor que entrou pra minha lista de nomes onde fico atenta e procuro acompanhar: Antony Cordier.
Gaspar e seus irmãos no filme de Antony Cordier |
A mostra de delicadezas é grande, e a riqueza de temas que o filme desenvolve também é digno de um debate regado à vinhos.
O início do filme é peculiar, começa com um contrato.
Me lembrei de Bion e seus textos sobre a turbulência emocional que está embutida nos encontros. Gaspar ali, talvez já buscava transformações, mas não se dava conta.
Somos convidados a participar como observadores privilegiados. Somo visitantes de um zoo-lógico de animais/ humanos e as ligações que vão se estabelecendo ao longo do filme, nos levam a pensar nas nossas relações sejam elas fraternais, sexuais ou banais.
O viés ironico do cineasta, nos protege de percorrer o caminho fácil dos clichês dos instintos e primitividade. Com uma filmagem estética e bom gosto musical, nos leva para outro caminho.
Somos convidados a participar como observadores privilegiados. Somo visitantes de um zoo-lógico de animais/ humanos e as ligações que vão se estabelecendo ao longo do filme, nos levam a pensar nas nossas relações sejam elas fraternais, sexuais ou banais.
O viés ironico do cineasta, nos protege de percorrer o caminho fácil dos clichês dos instintos e primitividade. Com uma filmagem estética e bom gosto musical, nos leva para outro caminho.
patriarca da família Max (Johan Heldenbergh) |
Cada filho tinha sua peculiaridade: as genialidades, senso de responsabilidade, carencias e fragillidades. |
Não estamos diante da típica familia francesa, ou de qualquer outro lugar da europa, ocidental.
Vemos que no final das contas, o quanto é árduo nosso caminhar para nos libertarmos das amarras, dos laços familiares, que sempre nos confundem e nos impedem de ver claramente quem estamos nos tornando.
Je ne t'aime plus |
Aquela famosa frase de Freud em Inibição, sintoma e angústia – “existe muito mais continuidade entre a vida intrauterina e a primeira infância do que a impressionante cesura do nascimento poderia nos fazer acreditar” (FREUD, 1926)
Em uma cena o irmão mais velho diz por uma série de razões e motivos por que não ama seu irmão mais novo (que mora longe e vive sua vida separada do clã). E é compreensivel num primeiro momento, mas no fundo acredito que existe tanto amor (camuflado de ódio e inveja) que no final temos o resultado bonito de uma carta explicando:
que só é possível construir uma nova família e amarmos novas pessoas, para enfim re-nascer como pessoa, indivíduo,
se obtivermos sucesso nas cesuras.
**A cesura marca a própria constituição do aparelho psíquico: interno/externo, inconsciente/consciente, vigília/sonho etc. Mas, para Bion, é uma constituição que se dá a todo momento. Constitui, une e separa ao mesmo tempo as aparentes oposições binárias acima descritas. Ou seja, é um paradoxo. Essas e outras diferentes dimensões psíquicas (psicótico/não psicótico, protomental/mental, adulto/infantil, ódio/amor, paciente/analista etc.), simultaneamente separadas e unidas pela cesura (/), representam dois mundos, ou estados mentais, nos quais vivemos ou transitamos mesmo que um deles predomine como vértice de observação. (Renato Trachtenberg SBPPA)
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